segunda-feira, dezembro 12, 2005

Que horror!







Caríssimo amigo diário de parede:
Tenho este hábito de espiolhar todos os cantos desta cidade de luz branca.
Uma obsessão.
As paredes estão forradas a net, há blogues por tudo o que é sítio, a spray ou a pincel.
A expressão está na rua!
Tudo é legítimo na arte da escrita em betão.
Confesso-te que me deu um certo gozo, em 1972, pintalgar o meu liceu D. Pedro V, com escritos alusivos à guerra colonial.
Saía logo depois de jantar, com o meu kispo, o barrete tipo IRA, as botas associativas de atributos múltiplos, umas calças pretas a condizer com a noite.
No dia seguinte era bom de ver, aqui o teu amigo ufano e feliz do trabalho realizado,
entrando liceu adentro, olhando em redor e tal e tal...
Respirava-se na época um ar de quase liberdade, o meu liceu era pioneiro, de fazer babar os meus invejosos amigos do Camões, de tantas mulheres bonitas por metro quadrado...
O que lá vai, lá vai.
Eis porém que vou muito bem a passar e...
Fonix!!!
Salazar volta?????
Como?
Só se for para ir dentro.
Responsável por acentuar e potenciar tudo o que define o que há de pior nos Portugueses.
Por tudo e tudo que conserve bem viva a nossa memória colectiva, eu deixo-te aqui a sombra do meu dedo médio
de Ronaldo, bem erguido e desenhado no chão.
Há sombras que não podemos apagar nunca.

Sim... de acordo!

Dá uma volta!



18 comentários:

Baggio disse...

Há dias em que não nascemos com dedos do meio suficientes!!

Tilangtang disse...

Sempre ouvi dizer que o povo tem memória curta. E aí está. Aí e por muitas outras cabeças onde o passado se foi....
Se há coisa que me perturba os neurónios é ouvir "...antigamente é que era bom..."
Acordem pessoal...acordem, pois se não vivermos de olhos bem abertos estamos sugeitos a que nos caía em cima outro senhor de Combadão...ou lá o que era essa terra que em má hora o viu nascer.
Não pintei paredes nas escolas mas desejo pintar mentes com as cores da liberdade!

António_Pinto_de_Mesquita disse...

Boas,
O pior é que não volta o Salazar mas volta o Cavaco, que é o mais perto disso que arranjaram. agora espera para voltares a ver as mães das miudas que fazem abortos a dizer que são contra o mesmo.

muguele disse...

Ainda há menos de uma semana, uma senhora no café me dizia: no tempo do Salazar, pelo menos havia respeito.

Pois é, não é só a memória curta. É também o ensino do português que permite que se confundam palavras como respeito e medo, no fundo um dos métodos do Salazarismo: "Quem não sabe não protesta!"

No fundo, muita da gente que evoca os tempos do Salazar, fá-lo por desespero, da boca para fora, porque se sente insegura, porque não viveu nessa altura, ou se viveu, porque não sabia o que se passava, porque não vê saída com os governos que temos.
Nem sequer se apercebem que, nesses tempos, se fizessem um comentário no café, o mais certo era acabarem o dia em Caxias.

Não me preocupam os que o dizem por falta de instrução e informação. Preocupa-me é a falta de instrução e a má informação em si.

E preocupam-me muito, isso sim, os instruídos e informados que o dizem. Ainda ontem vimos notícias da Austrália que mostram os estragos que esses podem fazer junto dos pouco educados e mal informados.

muguele disse...

Pois o Cavaco não é flor que se cheire, de facto. Mas compará-lo ao Salazar também não deixa de ser desinformação e memória curta.

Nunca no tempo do Cavaco deixei de dizer o que pensava.

Tenho, no entanto, na memória jantares de despedida a amigos dos meus pais que íam "viajar" (era o que explicavam aos meus 10 anitos) e que acabavam na cave, com taipais nas janelas, a cantar Zeca Afonso, Fanhais e Freire em voz baixa e de lágrimas nos olhos.
Só depois de Abril de 74 percebi que "viagens" eram essas e a razão de ter de ouvir esses discos quase sem som e com a janela fechada.

Aproximar o Cavaco do Salazar também ajuda a que escritos desses apareçam nas paredes.

Tilangtang disse...

eu acho que há mesmo um problema de orientação pessoal. as pessoas lamentam o presente exaltando o passado. poderíam lamentar o presente sim, mas na perspectiva de fazer algo para melhorar o futuro.

A.P. disse...

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía."

Luís de Camões

Esperemos apenas que as mudanças não nos levem a um dejávu com um timbre salazarista.

Maria disse...

Só para mostrar os meios dois dedos do meio, para o Salazar, claro, e para o autor do blog mural!!

Lyra disse...

deixa que te mostre uma coisa João http://6em1.blogspot.com/2005/05/encanecer-contributo-da-lyra.html

António_Pinto_de_Mesquita disse...

Boas,
João, falo agora de outra coisa, ouvi a Lola falar em festa e só foram convidados os meus páis, então e o toninho?
Parabems adiantados!

João Gil disse...

Caríssimo amigo António, os assuntos do diário, não são problema meu.
Não estou diáriamento com esse gajo, e nem sempre me apetece vê-lo... apesar de vivermos no mesmo sítio, não somos a mesma pessoa, entendes?
Mas, se o encontrares por aí, dá-lhe um abraço da minha parte.
Fica bem.

Elora disse...

Olá João!
Mania de politizar tudo! Ninguém é burro a ponto de querer o Salazar de volta. Tenho a certeza que perderam foi a espátula deraspar a massa dos bolos. Também eu andei que tempos a querer a minha de volta e depois tive que comprar outra. Menos mal, que raspa melhor.
Beijocas.

Bird disse...

Há aquele ditado que diz: a brincar a brincar o gato foi às filhoses.
Pois e a vontade do regresso de Salazar é muito mais do que uma simples conversa da senhora que vai às compras e se queixa da vida cara e da pouca vergonha dos alolescentes, etc. etc.
Estes murais verbalizam o que a falta de coragem de alguns impede de manifestar. Por isso a conversa passa-se no café, nos táxis, no mercado. E não só no continente, mas nas ilhas, mas no tão orgulhosamente ex ultramar.
O que é extraordinário é que este povo, que tem todas as razões e instrumentos para analisar e resolver as repressões do passado, quando as coisas não lhe correm de feição, incarna a própria da repressão, tornando-se o carrasco do seu desespero. Foram muitos anos, meus senhores. Foram tantos anos e tantas reproduções/cópias do Salazar, nos homens e nas mulheres portuguesas, que ainda por muitos anos precisamos todos de fazer o trabalhinho de casa, de todas as casas. Veja-se o despotismo de pais, a arrogância de filhos e a total falta de respeito que subsiste nesta sociedade. Porque será?
Ainda bem João que escreveste este artigo. A memória só não é curta quando nos convém.
Abraço

Mariana Matos disse...

"António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular...
António é António
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está tudo bem.
O que não faz sentido
É o sentido que isso tudo tem(...)"
Fernando Pessoa

António_Pinto_de_Mesquita disse...

Boas,
Do toninho uma desculpa por confusões causadas. O que queria dizer basicamente é : Muitas felicadades quando o momento de alegria chegar.
Abraço e as mais sinceras desculpas.

António_Pinto_de_Mesquita disse...

... e um abraço ao diário

One two three four disse...

"Ainda que fossemos surdos e mudos como uma pedra, a nossa própria passividade seria uma forma de acção." Jean-Paul Sartre

Black Angel disse...

o salazar vai ganhar à primeira volta. é o que o zé povinho quer.

e lá vamos ter de ir á luta, outra vez.