sábado, agosto 20, 2005

Cometi um crime?

" Enquanto tu e eu tivermos lábios e vozes que
servem para beijar e cantar
que importa que um qualquer limitado filho da mãe
invente um instrumento que sirva para medir a
Primavera? "

E.E. Cummings


Tive a desgraçada lata de ter composto uma canção com este poema/manifesto
inacreditavelmente eficaz, fortíssimo, cruelmente delicioso.... e muito mais que tudo.

Provavelmente sob a luz de tudo em que acredito, terei feito uma heresia, para quem, como eu,
defende que, se já lá está uma música, para quê pôr lá outra?
Isto apesar de já ter feito uma data de "crimes" do género.

É normal ter dúvidas.
É normal pôr questões.
É normal a angústia.

Será sempre ruído?
Implica a substituição forçada dos sons mentais de cada novo leitor que não precisa de ser afinado?
Implica uma métrica dura e surda perante a liberdade?
Tira a liberdade?

Este pequeno grande "crime" que, confesso, abriu-me as portas da deliquência.
Será legítimo voltar ao local do dito?

Não sei.

Alguém sabe?

Está alguém aí?

Digam-me!

9 comentários:

João Gil disse...

Da-se!
Um homem desabafa
e cai-lhe logo o comércio americano?
Fogo!
não sei se isto assim tem alguma piada

Caraças!
Isto é sempre assim?

disse...

Adorei o seu blog...se vc quiser se comucar e ver o meu blog o endereço é:
http://ojitosdemar.blogspot.com/

Sofia disse...

:)

Acho que não é sempre assim, João.

... Mas que teve piada... :)))

(Eu achei estranhíssimo que, no espaço de menos de uma hora, 7 pessoas tivessem comentado prontamente. Cheguei a pensar "Estes tipos são completamente viciados. Devem ficar horas à espera de um novo artigo... Agora estou mais descansada. :) )

Vou ler outra vez o post, para comentar decentemente. :)

Sofia disse...

As palavras, as ideias, não pertencem a ninguém. São de quem as disser e pensar, nesse momento.
Não vejo que seja um "crime", pô-las na nossa boca e na nossa cabeça. "Crime" (com e sem aspas) seria dizê-las exactamente da mesma maneira, e omitir que não surgiram do nada, ou pior, afirmar que nunca as tinhamos ouvido.
Portanto, não só é legítimo, como até agradecemos o regresso ao local do "crime".

Carla de Elsinore disse...

não sendo especialista na matéria diz-me o bom senso que não estamos perante nenhuma espécie de crime.

p.s. podes sempre mandar o comércio americano às urtigas, basta um delete post. ;-)

pedro oliveira disse...

João...sobre a Liberdade lê um blog: santamargarida.blogspot.com
...sobre os incêndios lembro-me dum local onde os Trovante actuaram (São Miguel do Rio Torto, concelho de Abrantes)onde o Luís Represas disse esta frase:"...os criminosos que fizeram isto que estamos a ver aqui à volta é que deviam estar lá presos naquelas árvores" (estou a citar de memória, mas o cenário era mesmo assustador, para nós que estávamos de costas, imagino para vós a tocarem de frente pr'aquilo)... já se passaram muitos anos mas será que a culpa é mesmo dos pseudo-incendiários, ou será dos negócios milionários que se fazem à volta disto? Haja coragem política para investigar...

A.P. disse...

Certo é que a poesia tem a sua própria música mas que mal há em despertá-la em cada um de nós? Muitas vezes a música de um poema só se descobre depois de alguém dar a conhecer a sua interpretação. E muita da poesia de muitos poetas só é divulgada e descoberta graças a esse "crime". Dá-nos mais "crimes" desses, que todos agradecemos partilhares a tua interpretação connosco...

muguele disse...

Descobri o Eugénio de Andrade com o "Lisboa" e, para mim, é essa a música que o poema tem.
Outros poemas terão outras músicas e outras músicas não pertencerão aos poemas a que as juntaram. E não temos sempre a liberdade de lhes dar músicas novas? É tudo uma questão de imaginação e... inspiração.
Essa ainda não ouvi mas digo já que crime não é.
O crime é este modo de vida que está sempre a tentar matá-la (à imaginação).

One two three four disse...

Colocas bem a questão e posso até perceber porque te questionas (aliás, obrigada por partilhares cá com a malta do blog!). Eu não consigo ler "O Fim" do Sá Carneiro com imparcialidade, quer isto dizer, não consigo deixar de ouvir a música por trás (até mesmo de a trautear, se é que esta música é de "trautear", perdoem-me o exemplo, não é o melhor). Ou a "Lisboa" do E. Andrade de quem alguém falava. Ou mesmo o "Perdidamente" da F.Espanca ou............ (tantos, tantos)

Mas a verdade (boa) é que não os teria conhecido (e quiçá amado tanto) se não fossem as músicas. Não teria talvez este gosto imenso pela poesia, pelas palavras... Sim, posso confessar que foi "O Fim" que me levou a Sá-Carneiro, a toda a sua obra. E também são estas músicas que nos marcam, como músicas, como poemas, como palavras. Claro que há poemas que resultam bem, outros que não tanto mas o risco esse... é bom correr! Vale a pena, não? Diz-nos tu.