sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Subir ao fundo

Meu estimado

Volto à montanha.
Talvez perceba um dia
porque voo tantas vezes em sonhos
de janela em janela
pelos beirais das casas de Lisboa.

Entendo o João Garcia.

A tentação de subir ao fundo do abismo.

O perigo de morrer ao fugir dela.

A gravidade em movimento ascendente.

Apressadamente!

Somos seres estranhos, nós os humanos.

Donde vimos?

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Gatuno! Gatuno! Gatuno!




Olha Quase
Digo-te, este fenómeno do futebol tem
na verdade algo de muito que se lhe diga,
e o que te trago apenas faz sentido
porque tudo o que se passa fora das quatro linhas
atinge proporções que não têm absolutamente nada a ver com o próprio desporto em causa.
Apesar da evolução tecnológica, dos interesses dos dirigentes dos clubes, do seu poder indescritível, dos inúmeros programas de TV, da imprensa altamente rentável, dos fanáticos das bandeiras e claques, dos apaixonados que libertam a sua pressão, dos ferraris, de todo o azeite que escorre das cabeças platinadas, dos gestos provocatórios, apesar de tudo e tudo o que agora não me ocorre neste texto inacabado,
realizo que a chave do segredo do sucesso do futebol assenta na incapacidade de controlo total sobre tudo o que acontece em tempo real, sem hipótese de retorno.
Se algo acontece, simplesmente já passou, já era!
Se não, vira futebol americano, com as paragens para publicidade, para a revisão dos lances e sua possível correcção.
Lá se vai a piada da coisa.
Somos levados a concluir então, que a discussão durante a semana dos casos polémicos, são a negação da essência do futebol.
Tudo se esgota no final do jogo.
Não???
Ok!
Então vá!
Continuem...
Força!

Gatuno!
Gatuno!

Metem dó...
Ainda por cima vê-se logo que nunca jogaram futebol.

A janela embaciada

Querido Amigo

Não é que a luz faltou exactamente
na parte em que o actor, aquele do matrix,
um pouco duro, canastrãozito mas enfim,
ao contrário da... nem encontro palavras,
Charlize...
Chorei baba e ranho só podia.
Às vezes chora-se nas banhadas americanas.
Porquê?
Um sinal de fraqueza!
Que franqueza!
Fui à janela para ver se era geral... a avaria entenda-se.
Apenas no meu quarteirão.
Só para chatear mesmo ali ao lado, o projector
ilumina agressivamente o prédio em frente,
A pirraça do rico... palhaço!
Enquanto espero pelo piquete da EDP à espera da sua Opá,
embacio o vidro da janela com fúria de mestre.
Atenuo a violência do chato do foco, e penso numa data de gente antes de desenhar no vidro em branco.

Se um dia escreveres algum nome na tua janela,
foi porque pensaste numa data de gente também, mas...

Que a luz nunca te falte!

sábado, fevereiro 18, 2006

A muda mudança muda?

Estimado


Sorrateiramente e como quem não quer,
o DNA finou-se.
Tinhas dado por isso?
Pois...
Mudar, tem de se mudar, fazer qualquer coisa,
mudar apenas, aparecer com outra cara,
Rejuvenescer?
Não creio.
Passou-me ao lado a justificação, se é que foi dada.
De quem é o DN?
Quem são?
Não interessa.
Olha Quase, já me convenci que nos dias que correm,
a mudança só por si, passou a ser um acontecimento,
um facto em si mesma.
Fica-se mudo de tanta mudança Meu Deus!!!
Sim, serei sempre naifezito...
Nas tintas.
Quando as coisas mudam para pior manifestamente...
Era caro fazer o DNA?
Cansaço?
Sei que um dia um amigo dirá algo que assente na mão
como a defesa pela luva de Ricardo.
Para mim, já perderam.
Já não compro o DN à sexta.
Também, quem se irá importar.

E tu Quase, estás sempre na mesma.
Vais ficar quieto?

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Os cravos de fevereiro

Carissimo João

Disse-te uma vez que não iria nunca
responder à letra sobre as coisas que te trazem a mim...

Hoje passei por aí, e vi que tinhas cravos vermelhos na tua mesa.

Pensei que seria interessante falar-te disso.
Sabes que os cravos são as flores da época?
Sim, têm a conotação de uma época que vocês viveram mais tarde em Abril de 1974.
Em Itália também curiosamente.

É claramente a estação do ano em que a natureza rompe e renasce pelos buracos do muro do inverno ainda.
Aproveitei para te falar de Liberdade,
do quanto é difícil o seu exercício,
falar-te do sítio onde acaba a nossa e começa a liberdade dos outros.
Foram séculos de experimentação.

Respeitar a diferença?
Quantas vidas não terão custado?
Qual foi o preço que se pagou na luta por tudo
o que tu e os teus amigos agora usufruem?
Olha para trás, estuda a tua civilização,
porque ela edificou-se, por sua vez, em cima de todo o tipo de
Barbárie, por invasões em nome de Deus, por todo o tipo de atropelos até que, contradição ou não, a consciência cresceu ao ponto da vossa capacidade de autocrítica e auto análise definir as margens da clarividência, com uma clareza indesmentível.
Nada mau!

Gosto de te achar eufórico, um pouco ansioso e impulsivo todavia, sim...
Conta comigo tu, e claro os teus amigos pendulares também.
Não deixes de lutar sempre.

Q.



Vieira da Silva

O dia a dia

Ó camarada Quase
Já agora o que me dizes...

Dia dos canhotos

Dia dos que usam óculos

Dia dos que ainda vêm alguma coisa

Dia do peão

Dia do gato

Dia de e do cão

Dia dos avós

Dia do neto

Dia do tuning

Dia da OPA

E mais outros tantos
que fariam do nosso dia
um verdadeiro dia a dia.

O comércio agradece.
E nós, ya! É aquela!


Um abraço

terça-feira, fevereiro 14, 2006

A cidade do namoro

Caro João

Pondera
São séculos de tradição
Os teu antepassados levaram os costumes
Cruzaram informação genética
Dizes que te sentes leve
Que não te deixas contaminar
Pensa que o povo é soberano
Eles adoram matrafonarem-se
Deixa lá
É a imagem do seu ideal
e quem sabe dualidade sexual não assumida
Desconfia quando ouvires os teus amigos
exercitando a ideia de se acharem o macho

Vai a Veneza
Subtil
Sinuoso
Sensual
Secreto

Compreendo o que te irrita
Mas

Vai por Lisboa ao acaso
Encontras o inesperado
Nada se repete
Uma rua nunca é igual a outra
E vais encontrar
Uma rapariga descalça e leve
Descendo degraus e degraus e degraus
Até ao rio

Namora
Não odeies


Um abraço sem pontuação



Q.

Odeio o carnaval

Estimadissimo Quase
Quero que saibas

Ninguém me pode levar a mal
Mas eu odeio o carnaval

Não é fácil esclarecer
Sem ofensa ou maldizer
isto assim até morrer
Desconforto de assumir
Nem sequer admitir
Sem vergonha ou que tal
Por favor e sem mal
Eu odeio o carnaval

Um dia uma canção
Sobre tema tão distinto
Seja branco seja tinto
Como o circo no natal
Depressivo e fatal
Faça chuva ou faça vento
Eis chegado o momento
Encarar o que é real
Vou lutar o ideal
O fado negro que souber
O bem haja ao que houver
Vou-me rir o ano inteiro
Como ouro a seu mineiro

Não me levem a mal
Mas eu odeio o carnaval

E toda a pontuação
O meu nome é João

Ponto

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

A campainha

Caro João

Ocorreu-me que poderias achar piada:



“ Toca-me no nariz
Sempre que me encontrares
Abre a minha porta
Tocaram os sinos do teu povo
A rebate repicando
Vieram todos e todos
E no fundo dos teus olhos
A chama do teu brilho
Brilhou
Tanto que não me perdi
Tanto que nem me lembro
Onde estive “




Q.

A luz ao fundo

Meu velho amigo,
não duvides,
isto anda perigoso.
À violência da representação cartonista ocidental,
a resposta violenta que não se fez esperar.

Mudo a agulha,
falo-te de uma iniciativa em que participei,
que de tão inédita e tão interessante
faço tudo para a expandir,
com toda a minha força.

Participei num encontro promovido por várias famílias
em que abertamente se discutiram assuntos,
que no meu caso, implicitamente tiveram incidência evidente
na Música Portuguesa dos últimos anos
e no ensino, e não só mas também, na razão proporcional
de uma actividade física a começar na primeira infância.
Este encontro deu-se numa sala de estar de uma casa privada.
Toda a gente sentada em silêncio activo.

Imagina tu
que este tão pequeno evento privado
insuflaria de tal maneira,
que todos aqueles nos quais as pessoas confiaram a sua memória,
escritores, pintores, filósofos, políticos, jornalistas, etc. etc.
iriam em tournée gigantesca pelas famílias de Portugal, que se
preocupam e investem na qualidade do tempo que passam com os filhos?

Terias aqui um belo exemplo de partilha, em que as mentes se questionariam mais do que a fatal opinião formatada
por televisões de qualidade duvidosa, inevitavelmente fariam, e... fazem.

Acredita que a utopia tem um túnel cuja luz
lá no fundo adquire todas as colorações que quiseres.

No fundo... uma questão de imaginação.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Não!

Meu estimadíssimo:

Ouve, tenho mesmo que desabafar,
que caraças!

Chego a um estabelecimento por volta do meio dia,
procuro se podem fazer uma matrícula nova.
Há dois dias que me passeava sem que ninguém desse por nada,
a não ser eu, com aquela sensação da meia rôta no dedo do pé grande... sim... no dedo grande do pé.
Toda a gente a olhar para nós...

Em menos de uma hora, tinha de novo a matrícula, e seguia viagem.

Agora que já passou, diz-me por favor, porque é que a primeira resposta do senhor ao balcão foi:
- Isso para hoje não vai ser possível.
Duvidei...

A segunda:
- Estão cerca de sete placas para fazer antes da sua.
Sorri...

A terceira finalmente:
- Se quiser esperar, pode ser que tenha sorte.
Abri o sorriso...

A sério, ajuda-me, diz-me a razão de ser para este comportamento tão estranho e tão corrente entre nós.

Porquê?

Sempre que alguém pede uma info ou um serviço,
vem de lá invariavelmente um:

NÃO!!!

Vais aqui a Espanha, entras numa tasca a abarrotar de gente,
pedes um bocadillo de qualquer coisa e a primeira coisa que tu ouves é:
Ahora mismo lo traigo!

Agora entendo as reportagens cada vez mais deprimentes,
sobre o que todos fariam se fossem os europremiados,

mudariam de emprego...
Nota-se mesmo sem prémio.

Que merda!


sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Mergulho nocturno

Querido Amigo:
Queres saber o que um invisual sente?
Mergulha no oceano até ao fundo da noite
e sente apenas



Era noite quando chegaste

Vendei os meus olhos
e mergulhei ao largo no mar profundo

Todos os sentidos se apuram no estranho meio
de te não ver

Foi então que te descobri

Rápido ancorei o meu batel em ti e
sem tempo a perder na tua praia rezei a primeira missa
Trocamos objectos de boas vindas
as palavras escolhidas ao acaso poético

a silhueta da tua alma
ali na minha mão

Sei agora que se pode amar uma alma
Por isso acredita

Almo-te meu almor!