Meu querido e laico diário:
Sei que tiveste uma educação cristã do mais fino recorte.
Foste um acólito anónimo como tantas crianças lá no teu bairro.
Lembro-me que uma vez contaste uma estória lá da tua escola:
Só a tua professora tinha um pequeno radiador, não era?
Disseste também que vocês, os putos malandros, davam pontapés na parede
para aquecer os pés e circular o sangue à força do frio.
Estava por lá o tal cruxifixo na parede por cima do quadro, não?
Sabes que hoje é um feriado religioso?
E tens consciência que os laicos, como tu, aproveitam o facto para tirar umas fériazitas?
Então, se estás de acordo em tirar os cruxis, deverias dar de volta estes dias de lazer forçado, não achas?
Deixa!
Sou eu a conjecturar…
Estado e sociedade equidistantes entre si...
Na História da Arte,
sempre me habituei a ouvir alguns sábios antropólogos defenderem que a nossa
civilização cruza entre si elementos pagãos com aspectos da vida religiosa, na tradição católica, após séculos de coexistência nem sempre pacífica.
A nossa música popular ou erudita tem inúmeros exemplos disso mesmo.
Os hábitos alimentares e os rituais cristãos sempre se digeriram ao mesmo tempo.
Tantas e tantas coisas que fizeram e definiram os povos e suas linguagens.
Isto para te dizer que acho esse gesto de tirar os cruxis como um acto de demagogia temporal, muito fácil de aplicar rapidamente.
A nossa sociedade pode e tem de respirar a tolerância.
O estado, obviamente que tem de ser o mesmo perante todos os que vivem por cá.
Mas não foi Cristo um homem que marcou os nossos dias pagãos?
Ora deixa cá ver:
Os antigos cruzas fixaram cruxis história fora... ou melhor: paredes a dentro!
Bah! Nã sê se gosto.
Eu deixava lá os cruxis onde estão.
Não é isso que me faz entrar no céu.
Nem me torna mais ateu.
Sou apenas...
O teu.
quinta-feira, dezembro 08, 2005
Dia santo na loja / Praxis do Cruxis
Publicada por João Gil à(s) 7:27 da tarde
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14 comentários:
pois eu retirava tudo...não é o Estado laico?
Laico é laico ou seja, não religioso.
Ponto final.
.
.
.
Tens toda a razão,João. (posso tratar-te por tu?)...Então e a liberdade que tanto se apregoa? Será que as pessoas, nas escolas, o conselhos executivos, não têm liberdade pra escolher se querem ou não ficar com os crucifixos?
Estas coisas estão cada vez a parecer-me mais estranhas...Daqui a dias estamos como em França, quando os franceses, obrigaram a que quem usasse Burka (não sei se é assim que se escreve) a tirasse para ir à Escola?...
Porque é que então se festeja o Natal se o estado é laico?
Por essa ordem de ideias, acabam-se as férias de Natal e as da Páscoa? Não se comemora o dia da mãe, o do pai, o do estudante ou de são Valentim?
As festas do Espírito Santo? As do Sr. Santo Cristo? Fátima?
Tá tudo doido neste país!...Tudo doido.
Desculpa João, excedi-me, mas ele há coisas que mexem com sistema nervoso de uma pessoa. :)
Os conselhos executivos deviam ter inteira liberdade para escolher se querem ou não crucifixos, mas nas suas salas de trabalho, não nas salas de aulas dos alunos.
Não ache que faça mal estarem lá os cruxifixos (eu também cresci com posters da Samantha Fox na parede e estou vivo para contar!), mas enfim, sempre podiam escolher santos de carne e osso (Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela): esses sabemos que fizeram a diferença.
Boas,
O preblema Jõao, está em tirar tempo de lazer a malta. Se tiras esse tempo, tiras tudo.
Bom fim de semana.
mariana matos,
a liberdade está na escolha e não na imposição. Se chego a uma escola e vejo um cruxifixo na parede, à priori estão a impor (pelo menos a chamar a minha atenção) para uma determinada religião. E não esquecer ainda que quem olha o cruxifixo mais vezes são crianças com 6, 7 ... anos.
Quanto ao caso da França, também não concordo com a posição do Governo francês, uma vez que os simbolos não estavam fixos nem impostos, eram passantes.
Quanto às férias, para mim e para tantos outros, tanto se me dá que as férias sejam agora ou depois. Há que ter férias. Ponto.
Quanto às festas religiosas só o são para quem as festeja. Os feriados para mim não fazem sentido. Seria muito mais interessante que fossem substituídos por: o dia contra o racismo, a xenofobia, a violência doméstica, etc, etc...
Apenas para concordar com as palavras da nascitura.
Os crucifixos não estão na escola por razões religiosas mas por motivos de tradição, relacionada com outras tradições que abominamos, características do Estado Novo.
Cada um deve ser livre de escolher e acreditar.
Não é fácil explicar a uma criança muçulmana quem é aquele senhor na cruz... acho que é um confronto desnecessário, que aumenta o fosso entre as minorias e os outros ditos "normais".
Claro que há assuntos muito mais importantes a resolver nas nossas escolas, como referiu a Alex, contudo, este é muito fácil de resolver, é só tirar, sem mais.
Quanto aos feriados religiosos, também discordo da sua existência, já que são também uma forma de discriminação em relação a outras religiões, cujos praticantes, caso queiram comemorar as suas datas especiais, têm que gozar uns dias de férias... Mas isto seria apenas um corolário dos nossos princípios constitucionais, que já não são novidade para ninguém...
PS: Não quero com esta opinião renegar o nosso passado católico, nem tão pouco as influências culturais e sociais desta religião, apenas permitir que, no futura, a nossa cultura tenha também a oportunidade de ter outras influências...
Pois eu acho que devemos aproveitar o melhor de cada religião. Isto implica gozar o feriados todos, deixar o crucifixo e juntar-lhe uns quantos simbolos de outras religiões. As paredes ficavam bem mais enfeitadas e mostravamos às criancinhas que não há um só caminho.
João,
Obrigado por teres aparecido no Murcon:). Avisa quando voltares ao Porto, seria agradável um bom jantar numa tasquinha qualquer! Abraço amigo, Júlio.
Se o Estado é laico não deveria haver feriados religiosos, embora a nossa tradição seja católica.
Concordo com o que alguns disseram: ter um cruxis numa sala de aula com crianças em idade de formação é uma chamada de atenção e é inevitável que elas se perguntem o que significa aquele símbolo. E, para abordar o assunto da religião o que seria justo era uma abordagem global em que se falaria de todas as religiões e não só de uma.
Mas acho que esta, embora seja uma questão importante, não é mais importante que as condições aqui enumeradas anteriormente. Essas sim, são as verdadeiras e importantes questões da educação (entre outras).
quanto a mim, as verdadeiras questões são as de princípio.
tudo o resto é uma consequência.
Quando eu era miúda não se falava muito do Pai Natal. Era o menino Jesus que nos dava as prendas. E não eram muitas, uma prenda dos pais era o suficiente! Quando eu era miúda tinha um enorme respeito pela minha professora (e pela régua de madeira!)e cumpria à risca as regras de comportamento na sala de aula. Quando eu era miúda não havia Playstations, nem internet, nem DVDs, e para a maior parte de nós nem sequer havia Vídeos nem computadores - eu tive sorte, o meu irmão tinha um Spectrum! Quando eu era miúda não tinhamos actividades extra-curriculares. Não sei bem porquê mas também não havia muitas crianças com Necessidades Educativas Especiais (as famosas NEE). Quando eu era miúda ninguém chegava ao quarto ano sem saber escrever o próprio nome! Hoje sou professora. Estou neste momento a dar as tão "famosas" aulas de Inglês no Primeiro Ciclo. Hoje tudo é anti-pedagógico! Até é anti-pedagógico exigir o minimo de respeito aos meninos, coitadinhos, que podem ficar traumatizados por tudo e por nada. Gosto muito do que faço, apesar de ser uma profissão um pouco ingrata. Mas essa história da liberdade às vezes parece-me que foi um pouco longe demais...
Os miúdos nem sabem porque é que se celebra o Natal; desde que recebam as carradas de prendas que eles "exigem" aos pais nada mais lhes interessa. Tenho consciência que a sociedade agora se modificou um bocadinho... diferentes origens, diferentes religiões... mas numa escola da aldeia por exemplo, em que todos partilhem as mesmas crenças, que diferença fará o crucifixo? Será que a seguir vão querer acabar com o Natal e com a Páscoa? Não, isso não, porque apesar da crise, o intragável fenómeno do consumismo está acima de tudo nestas épocas! Haja pachorra!
patsy-nana,
"não eram muitas , uma...era o suficiente" - concordo. vamos educar os pais, as tias, os avós dos meninos.
"...tinha um enorme respeito pela...(e pela régua de madeira!)" - não é às réguadas que as crianças vão aprender o que quer que seja. Há outros métodos para conseguir um bom ambiente numa sala de aula. Mas claro, dá muito trabalho pensar ambientes alternativos.
"...não havia crianças com NEE..." - é claro que havia. não havia era conhecimento para o detectar.
quanto às crianças da Aldeia, bem, se no meio onde vivem não houver abertura ao desconhecido vão ser criadas mais e mais pessoas onde a intolerância continua a ser a palavra de ordem (clamuflada, claro).
Para que fique registado: sou a favor da LIBERDADE com RESPONSABILIDADE.
Pois está aceso está.
Venho eu do descanso do fim de semana e depara-me com todos estes comentários.
Acho que realmente não é à reguada que se ensinam, as crianças. Quando estudei na maioria das escolas ainda se ensinava à reguada e os pais davam licença aos professoares para baterem nos filhos se eles se portassem mal. Não concordo com este tipo de ensino, já que eu não passei por ele e acho que nenhum dos meus colegas (inclusivé eu) saimos da escola sem estarmos minimamente preparados. Acho que tem de haver liberdade mas com um minimo de responsabilidade e bom senso.
A culpa de as crianças hoje em dia serem como são é, maioritariamente, da educação que os pais lhes dão (tirando raras excepções em q por mto que os pais se esforcem não conseguem lidar com elas). Quando vejo crianças a fazerem birras nos supermercados, a arrastarem-se aos berros agarradas às pernas dos pais, e os pais a dizerem: "tá bem, eu compro-te ...isto ou aquilo.... mas não me faças passar vergonhas." Acho que está tudo dito.
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