terça-feira, janeiro 17, 2006

Traje de luzes

Sim João, de facto a lide, e a ideia de sol e sombra,
tem suscitado de tudo um pouco.
O sol que ilumina o gesto,
a luz de um traje que pelo animal estropiado,
tem gerado palavras, cujo peso e massa
dele brilham, brotam e sangram.
A sombra feita por um animal barbarizado,
mas cuja vida depende apenas da má sorte que lhe está destinada, como uma galinha que nasce para o efeito
sem uma causa...
Nada te choro.
Quem enfrenta um animal ferido, sangrado e enfraquecido,
às penas e lamentos não deve exigir.
Sei que os códigos de afirmação entre um grupo de homens,
nascidos e criados em lezírias, encontram muitas vezes na arena,
a galhardia e a coragem de um vínculo, uma identificação ou um sinal dentro de uma tribo qualquer.
Depois, vêm suas mães lamentar e apanhar a dor que caiu por terra.
Tudo isto tem um passado.
Sim, tens razão que me deu um certo jeito,
não tenho que me justificar a ti ou a quem quer que seja,
mas não tenhas dúvidas:
É na verdade mais fácil escudar uma opinião numa verdade aparentemente justa e correcta.
Mas não chega para entrar no céu.
Consuma-se internamente no presente colectivo... apenas.
Por isso, apelo-te para a compreensão dos homens, para a explicação das estrelas.
Porquê tudo?
Não te apresses a dizer não.


Cordialmente

Q.


5 comentários:

Tilangtang disse...

porquê?
para quê?
onde?
como?
quando?


não massacrem os animais...
...não massacrem a vida!

Sílvia disse...

As touradas só existem porque há pessoas que pagam para as ver. Essas são as verdadeiras culpadas. Tudo se resume a dinheiro, à lei da oferta e da procura. Não me venham falar de arte. Que arte existe em maltratar cobardemente um animal? Sim, cobardemente! Em igualdade de circunstâncias, ninguém tem tomates para os enfrentar.

Sílvia disse...

Já me esquecia: bem-vindo, João. Espero que se tenha divertido. O Quase foi-nos fazendo companhia, trocando-nos as voltas com os seus malabarismos semânticos. Gosto dele. Tenha cuidado ou ele ainda lhe monopoliza o blog e os leitores.

A.P. disse...

Para quem ainda não leu, leia: "Miura" do livro Bichos, de Miguel Torga.

Deixo aqui um excerto:

"Subitamente, abriu-se-lhe sobre o dorso um alçapão, e uma ferroada fina, funda, entrou-lhe na carne viva. Cerrou os dentes, e arqueou-se, num ímpeto. Desgraçadamente não podia nada. O senhor homem sabia bem quando e como fazia. Mas porque razão o espetava daquela maneira?..."

Uma interpretação

cristina disse...

As touradas, as lutas de animais, a caça desportiva, o desrespeito pela vida selvagem e o ambiente, são sinais óbvios de que o homem foi um erro da natureza. E ainda por cima somos arrogantes! Racionais? Quem, nós?